Biografia
O TOQUE É REAL. Ele está na vida e na linguagem. Nem uma menos concreta do que a outra. E nessas páginas “digitais” as questões que são tão caras a personagens ou narrador emergem e são repassadas a você, leitor, cúmplice e fiduciário, elas exigem o toque, senão o abraço e, mesmo, a posse, pois irão “tocá-lo”, com ou sem o seu consentimento. Aqui as tessituras narrativas se oferecem em uma cinematografia extremamente variada e colorida, desde planos gerais aos de detalhe, em closes intimistas, em que personagens ora se confundem com narrador, ora se abrem em adoráveis psicologias complexas compartilhadas, tramas sem ponto de nó. São revelação e catarse (e um tanto a aprender-se). Isso porque esse autor - que ora lhe toca - tem um processo de escrita singular: sua narrativa, no momento de composição, faz despertar nele próprio as sensações daquilo que escreve, como se fossem reais e estivessem acontecendo. Diegese plena, como um alucinógeno de emoção e linguagem. Assim confessa que sempre foram também suas leituras – as memoráveis -, daí a necessidade de cumplicidade e compartilhamento pela escritura: ao experimentar, sofrer e sentir o texto que compõe, ele espera que se compreenda, que se experimente e se sinta – alegria e angústia, compreensão e dúvida, razão e melancolia linda. Este é Carlo Enrico Piero, que você irá conhecer – e ele a você -, nascido em 1986, em um mundo ainda perfeitamente analógico, de palavras impressas em papéis e toques mais que palpáveis em peles cruas como a nossa; e que escolheu amar intensamente o mundo digital com o mesmo tirocínio, levando para o universo online toda a sua história, suas experiências singulares, seus enredos demasiado humanos e sem falsos pruridos, num equilíbrio único entre a sinceridade rascante e um adorável e doce lirismo. Aqui, em seu retorno às origens - o códice (blook)- , numa eclética exposição de estilos, iremos flagrar um Enrico apaixonado pelas palavras e pela expressão, pois, por trás de suas variações – crônicas, contos, cronicontos, prosas poéticas e outras espécies e delícias –, há um leitor voraz, um amante das letras e, principalmente, uma história de leitura característica de um verdadeiro leitor: aquele que acredita no poder de transformação da escrita; aquele que não pode viver sem ler ou escrever; enfim, aquele que se pode definir como escritor legítimo. Ao escritor é preciso, antes de tudo, coragem. Que não a falte ao leitor, também, para lê-lo, pois nessa hora requer-se a mesma dose de entrega que foi necessária para escrevê-lo. Entrega é o nome certo para o processo de leitura, pois, se não for para se viver a narrativa, para se deixar tocar pelo que há de verdadeiro no que nos espelham as “ficções” da escrita, para que esse trabalho de decifração de tantas letras, como toques sem toque? Ora, pois toque e deixe tocar-se. A leitura é como a vida: não vale senão pela aventura. E o ímpeto de fazer valê-las, ambas, nunca perdeu o vigor em Carlo Enrico Pierro, sempre ao lépido e feroz arrepio da vida, vertendo-as em livro, ora com tato, entrega e arte.